Estatísticas divulgadas pelo Disque-Denúncia Nacional apontam que diariamente mais de 50 crianças são vítimas de abuso sexual no Brasil. No último ano mais de 18 mil denúncias foram oficializadas no órgão. Do total, 54% das vítimas são meninas, 40% são crianças de 4 a 11 anos e 57,5% crianças negras/pardas.
O problema vai além das fronteiras, um Conselho da Europa divulgou que uma em cada cinco crianças é vítima de algum tipo de violência sexual (abuso na própria família, pornografia e prostituição infantil, solicitação pela internet), sendo que entre 70 a 85% dos casos, a criança conhece e confia na pessoa que pratica esse abuso.
Como forma de orientar pais e demais responsáveis a como conversar e ensinar crianças e adolescentes de modo a ensiná-las a evitar condutas abusivas em face de suas sexualidades ainda em formação, acadêmicos do IX Termo do Curso de Psicologia da AJES estão desenvolvendo em escolas do ensino fundamental de Juína um projeto de orientação e conscientização.
A proposta ocorre em alusão ao Dia de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, comemorado no último dia 18 de Maio. Através de atividades lúdicas, as crianças, que hoje estão expostas, irão aprender a se proteger, como nos contou a Coordenadora do Curso de Psicologia da AJES, Professora Pós-Doutora Nádie Ferreira Machado Spence.
“A proposta que levamos através do Estágio Supervisionado Específico da Ênfase em Psicologia e Políticas Sociais em Práticas de Psicologia Forense é uma proposta levada para as escolas de ensino fundamental como um trabalho de prevenção ao abusado sexual infantil. As estagiárias do IX Termo do Curso de Psicologia organizaram atividades baseadas num material produzido por Psicólogas para trabalhar de forma lúdica com essas crianças que saberão enfrentar todos os tipos de violência que as acometem hoje em dia”, comentou.
A campanha visa conscientizar os adultos que, além da sua responsabilidade legal de proteger e de agir em defesa de crianças e adolescentes, cabe a estes o papel pedagógico da orientação e diálogo. Dessa forma, pretende superar os tabus que envolvem o tema em apreço.
As acadêmicas Fabiana e Ângela integram o projeto de Estágio Supervisionado na Área da Psicologia Forense. Elas contam que em uma roda de conversa, as crianças receberão orientações de forma lúdica através de um teatro de fantoches. O projeto é baseado no Livro: “O Segredo da Tartanina”, desenvolvimento por Psicólogas Clínicas. O material utiliza linguagem lúdica, infantil, adequada para que as crianças tenham o entendimento de como se proteger.
“Nós vamos auxiliar as crianças a desenvolverem habilidades de proteção básicas, como por exemplo, a percepção de reconhecer o que é o abuso, sabendo diferenciar o que é carinho e o que não é, aprendendo a dizer não. As crianças também são orientadas a buscar ajuda conversando com alguém de confiança, que terá o papel de denunciar o abuso no Conselho Tutelar que a partir daquele momento dará a criança todo o amparo necessário através de uma rede de proteção”, ressaltam.
Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes
Esta data foi escolhida em razão de um caso ocorrido em 18 de maio do ano de 1973, na cidade de Vitória, no Estado do Espirito Santo, intitulado "Caso Araceli", no qual uma menina de oito anos de idade, fora raptada, estuprada e morta por jovens de classe média alta daquela cidade que permanecem impunes.
Com apenas oito anos de idade, Araceli Cabrera Sanches foi sequestrada em 18 de maio de 1973. Ela foi drogada, espancada, estuprada e morta por membros de uma tradicional família capixaba. O caso foi tomando espaço na mídia. Mesmo com o trágico aparecimento de seu corpo, desfigurado por ácido, em uma movimentada rua da cidade de Vitória (ES), poucos foram capazes de denunciar o acontecido. O silêncio da sociedade capixaba acabaria por decretar a impunidade dos criminosos. Os acusados, Paulo Helal e Dante de Brito Michelini, eram conhecidos na cidade pelas festas que promoviam em seus apartamentos e em um lugar, na praia de Canto, chamado Jardim dos Anjos. Também era conhecida a atração que nutriam por drogar e violentar meninas durante as festas. Paulo e Dantinho, como eram mais conhecidos, lideravam um grupo de viciados que costumava percorrer os colégios da cidade em busca de novas vítimas.
A proposta do "18 DE MAIO" é destacar a data para mobilizar, sensibilizar, informar e invitar toda a sociedade a colaborar na luta em defesa dos direitos sexuais de crianças e adolescentes, posto que se mostra necessário garantir a toda criança e adolescente o direito ao pleno e saudável desenvolvimento de sua sexualidade de maneira segura e protegida, isentos de qualquer forma de abuso e exploração sexual.